AS CHUVAS DO FIM DE
ANO
Observo através da janela, os dias chuvosos de todos os fins
de ano.
E o movimento acelerado das pessoas.
Debruço-me sobre o parapeito, tentando achar uma posição mais cômoda para minha reflexão.
A brisa gelada é um convite ao chá quente.
Aqueço meu coração para os “flash back’s” do dia.
Já percebi, há muitos anos, que pertenço a esse mundo de
silêncio quebrado.
Onde o som da chuva, batendo no chão, é a trilha sonora do
“curta-metragem” da vida.
Quase um ano de intensa inflexão, para um dia inteiro de
pura respiração profunda.
Os olhos procuram um ponto fixo em meio ao emaranhado de
prédios.
O ruído da porta rangendo me tira a atenção.
Desligo a televisão, que esbravejava qualquer coisa
inteligível.
Procuro o cobertor que havia deixado em cima da
escrivaninha.
Com o pensamento na cama aconchegante que me espera.
Sento em sua cabeceira, com o pensamento ainda distante.
Mas, com as mãos prontas e esticadas de encontro ao antigo
rádio, no chão ao lado.
Procuro a estação que costuma ouvir, sentado na poltrona da
sala da casa de meu pai.
As musicas eram tão doces e lentas.
E sempre me remetiam a coisas boas.
Sempre me remetiam a paz de espírito.
Fico a espera do ato seguinte da vida, como um ator atrás
dos bastidores.
Tentando puxar da memória todos os dias que resolvi ignorar.
Sinto que estou em meio a um turbilhão de lembranças e
pensamentos.
Fico ali, deitado observando o balançar do ventilador de
teto.
Pensando que, talvez, esteja tudo errado.
Que talvez esteja me limitando a fugir de tudo aquilo que me
persegue.
Sem ao menos tentar encarar.
Há muito tempo que espero por esse momento.
Cada vez que esse dia vai embora, sinto lágrimas rolarem por
dentro.
Pois é nele que descanso minha mente.
Tentando encontrar um minuto de tranqüilidade neste mundo.
Quando, finalmente, ele se vai.
Apenas sinto a falta de não ter tido tempo suficiente.
Tempo suficiente para simplesmente existir, em um mar
repleto de aparências e egoísmos.
B.X.D.
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