quinta-feira, 17 de setembro de 2015

INQUIETUDE



Predomino em sua pele, como a sujeira de dias que não se pode retirar.

Antevejo seus passos com pormenores que nem mesmo poderia imaginar.

O tempo todo te observo, perseguindo os passos tímidos que custa a dar.

Faço a narrativa de sua história, como um observador inquieto e silente.

Tudo condizente com seu estado de espirito.

Na espreita da noite procuro um porto seguro, junto ao seu.

E percebo que não há mais lugar nesta vida que seja seguro para nós.

O estado de alerta incessante, faz com que seus olhos imaginem vultos e coisas.

Por estar, intimamente, ligado a você, os vejo também.

É como se tudo aquilo que há muito tempo tentava esconder viesse à tona.

É como uma rebelião de pensamentos e fatos do passado, antes aprisionados.

Antes emudecidos pela força do esquecimento voluntário.

Vejo-me preso a este turbilhão, dando voltas em círculos sem fim.

Tento te levar pela mão a passeios mais amenos.

Mas parece que não consegues mais me enxergar.

Transpareço-me em movimentos e reações desesperadas.

Externo minha desesperança com gestos eloquentes, tentando um pouco de sua atenção.

E acabo por perceber que aos poucos estou lhe perdendo de vez.

Em um breve momento de calma, permaneço calado, diante do reflexo da sua imagem.

O espelho, ao qual todo este lapso estive diante, não mais me instiga, sequer me responde.

Somente me observa atentamente, da mesma maneira como eu o observava todo este tempo.

Autoanalisando meus medos e atos insegurança.

Buscando, em detalhes ofuscantes ao meu redor, o mesmo que eu.

 

B.X.D.

sábado, 4 de abril de 2015

O TREM DA VIDA


O trem da vida passa e acorda a todos do lugar.

Vem à procura de sonhos e mudanças.

Vem a procura daqueles que querem mais.

Não há mais quem se irrite com o seu barulho de pó e fumaça.

Rastros de vidas que vêm e que vão.

A cidade sempre fica a esperar pelo seu retorno.

E o entorno da estação se enche de luzes a piscar.

As lágrimas se misturam a terra batida.

E a batida do sino avisa aos desavisados:

“Está na hora de partir!”

“Está na hora de se aventurar!”

“Não se pode mais esperar!”

“A hora é agora, depois não vá chorar!”

Os habitantes nunca sabem quando o trem irá retornar.

Ou, se mesmo um dia isso vai acontecer.

O que se sabe é que o tempo avança.

Menos na cidade que fica para trás.

Ao pé da curva da estrada sem fim.

Janelas acesas denunciam sorrisos, desconfianças e saudades eternas.

Saudade de pessoas que não se sabe se voltarão a olhar.

Álbuns de fotografias são abraçados como tesouros escondidos.

Molhados e amassados no mais lindo e puro gesto de corações destemidos.

Jorrando o mais belo liquido.

Aquele que Deus nos deu para que possamos demonstrar o mais verdadeiro e bucólico sentimento.

Mãos agitam-se e se perdem pelo emaranhado anoitecer.

Tornando-se pequenas a cada metro avançado pela noite sem fim.

Até sumirem, deixando para trás olhares inertes e perdidos no sereno do luar.

 

 B.X.D.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

CRÔNICAS




Após o sequestro como rotina.
 
Vicio sustentado a socos e coronhadas.

Revira-se o sofrimento.

Como a ferida do crack.

Já pela manhã a farsa revelada.

Precisa-se de dinheiro para o sustento.

A tarja preta nos olhos.

Impede a leitura de suas almas.

Suas alcunhas.

Dificultam a identificação.

Após o seqüestro como rotina.

Revira-se a socos e coronhadas.

Já pela manhã o sofrimento do crack.

Precisa-se da farsa revelada.

A tarja preta de suas almas.

Impedem a identificação dos foragidos.

Suas alcunhas, crônicas.

  


                                                                            B.X.D.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

FORÇA POÉTICA


Poesia é sentimento genuíno.

É a demonstração de valores há muito esquecidos.

É o papel e a caneta em um dia nublado, sentado à soleira da porta.

É você consigo mesmo, estabelecendo contato com outras pessoas.

É reflexão sobre o mundo.

Ou, até mesmo, desabafo pessoal.

É brincadeira de criança no parque, em um dia de sol.

É o contraste da euforia com os olhos tristes do morador de rua.

É a materialização de sonhos e anseios.

É a boa nova a ser contada.

Ás vezes representa “raiva” e “acidez”.

Assim como, também, trás afagos ao coração.

Seu significado, “são muitos”.

Vai depender de quem escuta.

Vai depender de quem declama.

Dependerá, também, de quem escreve.

Mas o mais importante é que, dependerá muito daquele que a ler intimamente.

Pois este dará a devida interpretação que ela merece.

Tornando-a única e verdadeira, como se tivesse sido escrita naquele momento.

Cada piscar de olhos trará consigo uma mistura das mais variadas emoções.

Semeará seu especial poder de aliviar as carcaças daqueles que as escrevem.

E trará consigo a divina dádiva de arrancar sorrisos de uma alma aflita.

Mesmo quando esta, externamente, se põe a chorar.



B.X.D.