Predomino em sua pele, como a sujeira de dias que não se
pode retirar.
Antevejo seus passos com pormenores que nem mesmo poderia
imaginar.
O tempo todo te observo, perseguindo os passos tímidos que
custa a dar.
Faço a narrativa de sua história, como um observador
inquieto e silente.
Tudo condizente com seu estado de espirito.
Na espreita da noite procuro um porto seguro, junto ao seu.
E percebo que não há mais lugar nesta vida que seja seguro
para nós.
O estado de alerta incessante, faz com que seus olhos
imaginem vultos e coisas.
Por estar, intimamente, ligado a você, os vejo também.
É como se tudo aquilo que há muito tempo tentava esconder
viesse à tona.
É como uma rebelião de pensamentos e fatos do passado, antes
aprisionados.
Antes emudecidos pela força do esquecimento voluntário.
Vejo-me preso a este turbilhão, dando voltas em círculos sem
fim.
Tento te levar pela mão a passeios mais amenos.
Mas parece que não consegues mais me enxergar.
Transpareço-me em movimentos e reações desesperadas.
Externo minha desesperança com gestos eloquentes, tentando
um pouco de sua atenção.
E acabo por perceber que aos poucos estou lhe perdendo de
vez.
Em um breve momento de calma, permaneço calado, diante do
reflexo da sua imagem.
O espelho, ao qual todo este lapso estive diante, não mais
me instiga, sequer me responde.
Somente me observa atentamente, da mesma maneira como eu o
observava todo este tempo.
Autoanalisando meus medos e atos insegurança.
Buscando, em detalhes ofuscantes ao meu redor, o mesmo que
eu.
B.X.D.
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